24.5.09

Seu Arlindo e a tristeza das mamas

Às cinco em ponto o sino da igreja tocou. O barulho dos sapatos de madeira batendo no soalho então soaram, e o cheiro de perfume antigo recendeu pela casa. Com o indicador e o médio em riste, Seu Arlindo arrumou o cabelo atulhado de gel, olhando-se no espelho sobre o armário da sala.
- Rosa, vou caminhar na pracinha - o velho gritou para a empregada que cortava cebolas para a sopa do jantar na cozinha. Absorta na novela, a moça assentiu vagamente:
- Ta certo, Seu Arlindo.
E ele foi, rua abaixo, os passos largos; acenando para os conhecidos que passavam, até chegar à praça. Olhou em volta discretamente; quem ele esperava encontrar ali ainda não chegara. Sentou-se no banco onde haviam combinado no dia anterior e esperou.
Quase uma hora atrasada, Tânia apareceu. Vestia um short rosa choque - quase uma calcinha - e uma blusa verde, que deixava toda sua barriga a mostra. Seus cabelos desgrenhados e sujos apontavam para o alto. Sua pele morena trazia manchas de sujeira e ela inteira fedia.
- Achei que não vinha mais, mulher - Seu Arlindo comentou, aliviado.
- Que é isso,meu velho, tu acha que ia te deixar na mão hoje - e começou a rir ebriamente.
- Vamos, que hoje eu to com pressa!
- Opa, pera aí, passa os cinco reais antes, velhinho.
Seu Arlindo arrancou uma cédula de cinco reais do bolso e a jogou no chão. Tânia se abaixou ávida pelo dinheiro e enfiou a cédula dentro do short. Depois, chegou mais perto do velho e levantou a blusa, deixando seus seios moles e tristes à mostra. O velho pôs-se a apalpar as duas mamas em deleite, o volume em suas calças crescia visivelmente. Tânia olhava para o céu, que já ia escurecendo, pensando na vida, enquanto um velho Arlindo sequeoso se satisfazia com sua carne.
Um leve gemido foi o sinal de que o velho terminara. Tânia se desvencilhou das mãos enrugadas de Seu Arlindo e sentou ao seu lado.
- Ta bom pra você, velhinho? Tem um cigarro aí?
Seu Arlindo sempre ficava tímido depois que eles faziam aquilo, e ela sabia.
- Tenho não. Minha filha não me deixa mais fumar.
- Que merda, velhinho. Deixa de besteira e me dá uns trocados aí que eu compro uns cigarros pra gente.
O velho deu o dinheiro. Rapidamente, Tânia foi na banca de revistas e comprou uns cigarros, aproveitando para comprar alguns para depois.
- Vem cá, velhinho, o senhor já pensou em ter uma mulher? - a prostituta indagou depois de expelir o primeiro trago - Uma mulher de verdade, que fodesse com você todo dia, que preparasse teu café da manhã, teu almoço, tua janta, que tivesse ali, todo dia, pra tu fazer o que quisesse com ela?
- Não - o velho murmurou, encolhido, o cigarro pendendo na sua boca.
- Pois é, eu poderia ser tua mulher sabia. Eu não me importaria se teu pau não levantasse de vez em quando, ou se tu peidasse enquanto eu assistisse a novela. Sabe, velhinho, eu acho que a gente podia se casar. Vamos passar disso deu ficar mostrando meus peitos pra você por uns trocados. O que é que tu acha?
- Vai à merda sua puta suja, aparece aqui amanhã na mesma hora e vê se deixa de ter essas idéias absurdas - Seu Arlindo resmungou enquanto erguia-se e jogava a bagana do cigarro longe, e foi embora, andando desengonçadamente por causa do melado em suas calças.
Quando o velho ia distante, Tânia sorriu ao ver a carteira do velho no chão,atrás do banco. Abriu-a, os dedos sujos perscrutaram a carteira e encontram algumas cédulas e um cartão de crédito, era o bastante para deixar as ruas por um tempo.

Um comentário:

Dinnah disse...

Gostei do vocabúlario que se encaixa perfeitamente com os personagens, acredito eu que nem tanto com o autor, ou melhor, espero eu. (: