25.5.09

redonda

Pôs a lagosta quase inteira na boca enquanto fitava o oceano amarelo com os olhos detrás das lentes amarelas. 12:00, sol à pinho. Sentia o suor escorrendo debaixo de sua camisa rosa floral. Passara o dia caminhando pela praia; observando os caranguejos minúsculos passando apressados sobre as pedras pegajosas de lodo, observando os pescadores pintando suas humildes embarcações, carregando os peixes ainda dentro das redes. Caminhara até se deparar com uma rocha enorme. Escalou a rocha arduamente. Cortou-se na vegetação do litoral. "ah" pensou simplesmente ao olhar feito explorador para a praia das alturas.
Encontrara aquela barraca de praia na volta. Sentou-se para tomar umas cervejas e comer umas lagostas e camarões. Conversou um pouco com o dono da barraca, elogiou os pratos deliciosos e a cerveja gelada antes de pegar a chave do Opala no bolso da camisa e se mandar pela estrada poeirenta, a caminho do vazio mais vazio do que o Vazio.
Dentro do carro passou a mão pela cabeça glabra - Roberto Carlos tocando numa sintonia péssima no rádio - e sorriu:
- Um menino, ainda sou um menino.

24.5.09

estômago dilacerado

A chuva dura tanto que penso que deus talvez exista. É o dilúvio, deus existe. Enfermo, ouvindo Lizst e mastigando papa de aveia eu espero que minha barriga pare de doer logo.

Seu Arlindo e a tristeza das mamas

Às cinco em ponto o sino da igreja tocou. O barulho dos sapatos de madeira batendo no soalho então soaram, e o cheiro de perfume antigo recendeu pela casa. Com o indicador e o médio em riste, Seu Arlindo arrumou o cabelo atulhado de gel, olhando-se no espelho sobre o armário da sala.
- Rosa, vou caminhar na pracinha - o velho gritou para a empregada que cortava cebolas para a sopa do jantar na cozinha. Absorta na novela, a moça assentiu vagamente:
- Ta certo, Seu Arlindo.
E ele foi, rua abaixo, os passos largos; acenando para os conhecidos que passavam, até chegar à praça. Olhou em volta discretamente; quem ele esperava encontrar ali ainda não chegara. Sentou-se no banco onde haviam combinado no dia anterior e esperou.
Quase uma hora atrasada, Tânia apareceu. Vestia um short rosa choque - quase uma calcinha - e uma blusa verde, que deixava toda sua barriga a mostra. Seus cabelos desgrenhados e sujos apontavam para o alto. Sua pele morena trazia manchas de sujeira e ela inteira fedia.
- Achei que não vinha mais, mulher - Seu Arlindo comentou, aliviado.
- Que é isso,meu velho, tu acha que ia te deixar na mão hoje - e começou a rir ebriamente.
- Vamos, que hoje eu to com pressa!
- Opa, pera aí, passa os cinco reais antes, velhinho.
Seu Arlindo arrancou uma cédula de cinco reais do bolso e a jogou no chão. Tânia se abaixou ávida pelo dinheiro e enfiou a cédula dentro do short. Depois, chegou mais perto do velho e levantou a blusa, deixando seus seios moles e tristes à mostra. O velho pôs-se a apalpar as duas mamas em deleite, o volume em suas calças crescia visivelmente. Tânia olhava para o céu, que já ia escurecendo, pensando na vida, enquanto um velho Arlindo sequeoso se satisfazia com sua carne.
Um leve gemido foi o sinal de que o velho terminara. Tânia se desvencilhou das mãos enrugadas de Seu Arlindo e sentou ao seu lado.
- Ta bom pra você, velhinho? Tem um cigarro aí?
Seu Arlindo sempre ficava tímido depois que eles faziam aquilo, e ela sabia.
- Tenho não. Minha filha não me deixa mais fumar.
- Que merda, velhinho. Deixa de besteira e me dá uns trocados aí que eu compro uns cigarros pra gente.
O velho deu o dinheiro. Rapidamente, Tânia foi na banca de revistas e comprou uns cigarros, aproveitando para comprar alguns para depois.
- Vem cá, velhinho, o senhor já pensou em ter uma mulher? - a prostituta indagou depois de expelir o primeiro trago - Uma mulher de verdade, que fodesse com você todo dia, que preparasse teu café da manhã, teu almoço, tua janta, que tivesse ali, todo dia, pra tu fazer o que quisesse com ela?
- Não - o velho murmurou, encolhido, o cigarro pendendo na sua boca.
- Pois é, eu poderia ser tua mulher sabia. Eu não me importaria se teu pau não levantasse de vez em quando, ou se tu peidasse enquanto eu assistisse a novela. Sabe, velhinho, eu acho que a gente podia se casar. Vamos passar disso deu ficar mostrando meus peitos pra você por uns trocados. O que é que tu acha?
- Vai à merda sua puta suja, aparece aqui amanhã na mesma hora e vê se deixa de ter essas idéias absurdas - Seu Arlindo resmungou enquanto erguia-se e jogava a bagana do cigarro longe, e foi embora, andando desengonçadamente por causa do melado em suas calças.
Quando o velho ia distante, Tânia sorriu ao ver a carteira do velho no chão,atrás do banco. Abriu-a, os dedos sujos perscrutaram a carteira e encontram algumas cédulas e um cartão de crédito, era o bastante para deixar as ruas por um tempo.